Mapa geológico e fisiográfico revela a Ilha do Campeche
Caetano Machado
Pedacinho de terra a leste da Ilha de Santa Catarina, município de Florianópolis, a Ilha do Campeche ganhou um perfil próprio: o Mapa geológico e fisiográfico, resultado da disciplina “Depósitos de planícies costeiras”, oferecida pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) durante o primeiro semestre de 2015.
A Ilha do Campeche é uma das 32 que circundam a Ilha de Santa Catarina – uma das mais relevantes, devido a sua importância arqueológica, paisagística, ambiental e turística – e assemelha-se a uma “irmã menor” desta. “Geologicamente, parece muito a Ilha de Santa Catarina, inclusive na forma”, diz o professor Norberto Olmiro Horn Filho, que ministra a disciplina desde 1993 no PPGG.
“O objetivo da disciplina é passar aos alunos aspectos básicos do que é composta a planície costeira do estado”, explica Horn, que dá opções para o estudo. Eles escolhem os setores que reúnem atrativos geológicos maiores, e, em 2015, a opção mais aceita foi a Ilha do Campeche. “Sempre que possível, pretende- se que os estudantes tenham como resultado e elemento de avaliação um produto palpável e publicável”, continua o professor.
Na Ilha do Campeche, foram realizadas duas etapas de campo, em abril e maio, para coleta de amostras de sedimentos e rochas, percorrendo-se boa parte do local. Dados geológicos, geomorfológicos, oceanográficos, arqueológicos, socioeconômicos e de cobertura vegetal foram levantados pelo grupo para a confecção do mapa e de seu texto explicativo. “Nós descrevemos fisicamente a geografia da ilha. As informações existiam, mas não estavam reunidas num texto, e tivemos êxito em aprontar o mapa”, afirma Horn.
Junto com Horn, assinam o mapa os mestrandos do PPGG, Aline Pires Mateus, Ana Carolina Moreira, Ingrid Matos de Araújo Góes, Irlanda da Silva Matos, Marcelo Marini; os doutorandos Edenir Bagio Perin e Francisco Arenhart da Veiga Lima e a oceanógrafa Andreoara Deschamps Schmidt.
A divulgação no meio digital contou com apoio das Edições do Bosque, numa colaboração entre o Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) e o PPGG. Horn também ressalta a parceria com a Pró-Reitoria de Pós-Graduação ( PROPG) para a impressão de mil exemplares do mapa – que não é o primeiro fruto do gênero no PPGG: em 2013, Horn foi um dos autores do Mapa geoevolutivo da planície costeira da Ilha de Santa Catarina.
Ao longo de mais de 20 anos da disciplina “Depósitos de planícies costeiras”, outros resultados foram compilados, mapeando- se todo o litoral de Santa Catarina, e estão prontos para apresentação ao público.
Para 2016, estão previstas as publicações de dois atlas: um da planície costeira e outro das praias arenosas de Santa Catarina. Os trabalhos envolveram a participação de, no mínimo, 70 pessoas, entre alunos de graduação, mestrado, doutorado, pesquisadores e professores. “A cada ano, as equipes vão se revezando, e todos farão parte do atlas. É uma conquista, fi co muito satisfeito em fazer parte.”
O atlas geológico da planície costeira de Santa Catarina em base ao estudo dos depósitos quaternários apresentará, em edição trilíngue, um compêndio com a produção técnico-científica existente sobre a planície costeira, e contará com texto explicativo, quatro séries cartográficas e 19 mapas geológicos. Além de Horn, a autoria é dividida com o geógrafo e doutorando em Geociências, Alexandre Félix.
Já o Atlas sedimentológico e ambiental das praias arenosas de Santa Catarina será publicado pela Edições do Bosque, do CFH/UFSC, envolvendo aspectos fisiográficos, oceanográficos, texturais e ambientais das 256 praias arenosas do litoral catarinense.
A partir dos anos 1980, ressalta Horn, iniciou-se a urbanização da planície costeira e litoral catarinense, que passou de um ambiente pouco antropizado para um ambiente bastante ocupado. “Nós precisamos conhecer melhor estes ambientes para que essa ocupação não venha a ocorrer de forma desorganizada. É necessário que tenhamos um balanço, um equilíbrio.”
Houve, nos últimos 35 anos, o crescimento do turismo voltado para o mar, e há uma correlação entre a evolução geológica e a antropização. “A análise de fotos aéreas antigas e imagens atuais indicam claramente o que mudou na geomorfologia costeira. Não é exclusivo de Santa Catarina, ou do Brasil, mas acontece no mundo inteiro. As pessoas querem aproveitar os recursos vivos e não vivos do mar e a paisagem costeira; entretanto, têm se preocupado muito pouco com a degradação do meio ambiente”, conta Horn.