UFSC na mídia: professor do CCA fala sobre o trigo e a evolução humana em entrevista à ‘BBC Brasil’

30/05/2019 16:55

O professor Juliano De Dea Lindner do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foi um dos entrevistados pela BBC News Brasil na matéria “Como o trigo ‘domesticou’ a humanidade – e vice-versa”. Lindner falou sobre a relação da evolução humana com o trigo. Confira o texto completo aqui.

Podcast UFSC Ciência Ep. 3 – Cuidado com o repuxo…

29/05/2019 13:41

Correntes de retorno são o tema do novo episódio do podcast UFSC Ciência. O professor da Coordenadoria Especial de Oceanografia da Universidade Federal de Santa Catarina Pedro Pereira foi entrevistado Laboratório de Radiojornalismo da UFSC.

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CRÉDITOS:

Entrevistador: Caetano Machado
Roteiro: Erick Souza, Maria Clara Flores e Caetano Machado
Produção: Caetano Machado, Erick Souza, Maria Clara Flores, Leonardo Reynaldo e Mayra Cajueiro-Warren
Apoio Técnico: Peter e Roque
Edição: Yusanã Mignoni e Lucas Villar
Música Tema: “Alegorias de Verão”, Modernas Ferramentas Científicas de Exploração.

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O podcast UFSC Ciência é uma produção da Agência de Comunicação da UFSC. Gravado no Laboratório de  Radiojornalismo da UFSC e editado no Laboratório de Gravação e Edição de  Som do Centro de Comunicação e Expressão da UFSC.

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Mais informações, críticas, elogios, sugestões pelo e-mail podcast@contato.ufsc.br.

Pesquisador da UFSC busca solução para bloquear a transmissão da dengue

21/05/2019 09:07

Descobrir por que os mosquitos não ficam doentes quando estão infectados com dengue: esse é o problema ao qual José Henrique Oliveira, professor do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia (MIP) da UFSC, irá dedicar sua atenção no próximo ano. Ele foi um dos contemplados em chamada pública de pesquisa científica do Instituto Serrapilheira, com o projeto “Inibindo vias de tolerância em mosquitos vetores para bloquear a transmissão de dengue”.

Os 24 projetos selecionados irão receber R$ 100 mil por um ano para o seu desenvolvimento, com flexibilidade no uso de recursos. Após esse período, haverá reavaliação dos projetos e três deles poderão receber até R$ 1 milhão, por três anos.

O propósito da pesquisa é que, no futuro, seja possível intervir no ciclo de transmissão da dengue e doenças com zika e chikungunya. Essas doenças são transmitidas por arbovírus, que têm interações com mosquitos vetores. “A dengue precisa de um inseto vetor, que pica uma pessoa com o vírus. O mosquito fica infectado, pica outra pessoa e aí passa o vírus. Estou tentando fazer com que esse ciclo não aconteça, impedindo picadas infecciosas, intervindo na doença através do mosquito vetor”, relata o pesquisador.

Interromper o ciclo de propagação da dengue, neste caso, significa impedir que os mosquitos vetores se alimentem de sangue e transmitam o vírus. “Os mosquitos são tolerantes a dengue. Quero inibir as vias de tolerância dos mosquitos infectados e fazer com que os insetos fiquem doentes”, afirma o professor. José Henrique explica que há um tipo de adaptação dentro da célula do mosquito que permite a replicação do vírus, sem afetar a saúde do mosquito. “Se eu conseguir fazer o mosquito ficar doente, por exemplo, inibindo essa adaptação, o mosquito vai cair morto e aí não tem transmissão de doença ou, se ele não morrer, não vai picar ou vai diminuir a frequência de picadas e você interrompe a doença da mesma maneira”.
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Podcast UFSC Ciência lança novo episódio sobre vacinação

14/05/2019 12:39

Entrevistas são realizadas no Laboratório de Radiojornalismo da UFSC. Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC

A Agência de Comunicação (Agecom) da Universidade Federal de Santa Catarina lança nesta terça-feira, 14 de maio, o segundo episódio do podcast UFSC Ciência. Vacinação é o assunto desta edição, e os entrevistados são os professores do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia (MIP) da UFSC Oscar Bruna-Romero e Daniel Mansur.

Podcasts são arquivos de áudio disponíveis para o usuário escutar a hora que quiser. Os episódios serão quinzenais, sempre às terças-feiras, e estarão em diversas plataformas, como SpotifyiTunes .

O programa é uma realização da Agência de Comunicação da UFSC e irá divulgar o trabalho de alunos, professores e pesquisadores da instituição. A gravação e edição dos episódios contam com apoios fundamentais de dois setores da UFSC: o Laboratório de Radiojornalismo, do Departamento de Jornalismo, que cede um espaço semanal para a gravação de entrevistas e áudios; e o Laboratório de Gravação e Edição de Som, do Departamento de Artes, onde os materiais são editados e há gravação de pequenos trechos complementares.

Mais informações na página UFSC Ciência.

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Podcast UFSC Ciência lança novo episódio sobre vacinação

14/05/2019 12:39

Entrevistas são realizadas no Laboratório de Radiojornalismo da UFSC. Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC

A Agência de Comunicação (Agecom) da Universidade Federal de Santa Catarina lança nesta terça-feira, 14 de maio, o segundo episódio do podcast UFSC Ciência. Vacinação é o assunto desta edição, e os entrevistados são os professores do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia (MIP) da UFSC Oscar Bruna-Romero e Daniel Mansur.

Podcasts são arquivos de áudio disponíveis para o usuário escutar a hora que quiser. Os episódios serão quinzenais, sempre às terças-feiras, e estarão em diversas plataformas, como SpotifyiTunes .

O programa é uma realização da Agência de Comunicação da UFSC e irá divulgar o trabalho de alunos, professores e pesquisadores da instituição. A gravação e edição dos episódios contam com apoios fundamentais de dois setores da UFSC: o Laboratório de Radiojornalismo, do Departamento de Jornalismo, que cede um espaço semanal para a gravação de entrevistas e áudios; e o Laboratório de Gravação e Edição de Som, do Departamento de Artes, onde os materiais são editados e há gravação de pequenos trechos complementares.

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UFSC Explica: Agrotóxicos

07/05/2019 18:47

O tema deste episódio do UFSC Explica é agrotóxicos. Por que os agrotóxicos são utilizados? Quais as consequências do uso de agrotóxicos a curto, médio e longo prazo? Há alternativas ao uso de agrotóxicos para a produção de alimentos em larga escala? Para responder a essas e outras perguntas, conversamos com três pesquisadores da universidade que são especialistas no tema.

Rubens Onofre Nodari, professor titular do departamento de Fitotecnia do Centro de Ciências Agrárias da UFSC. Nodari pesquisa os efeitos de herbicidas em abelhas e sistemas de produção orgânica e agroecológica.

Pablo Moritz, médico do Hospital Universitário e coordenador do Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Santa Catarina.

Sônia Hess, professora titular do Departamento de Ciências Naturais e Sociais do campus Curitibanos da UFSC. Realiza pesquisas na área de Química Orgânica e Saneamento Ambiental.

Confira abaixo o vídeo, também disponível em nosso canal do YouTube.

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Fermentação natural de pães diminui sintomas de doenças intestinais

06/05/2019 10:03

Um pão artesanal, feito a partir da fermentação natural, com alto poder nutricional e que atua para evitar o desencadeamento de sintomas de doenças como a síndrome do intestino irritável e sensibilidade não celíaca ao glúten. Com sabor e aroma diferenciados, o alimento é um dos resultados da tese de doutorado de Leidiane Andreia Acordi Menezes, orientada por Juliano de Dea Lindner no Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Alimentos, “Sourdough biotechnology for improving bread nutritional properties” (que pode ser traduzida como “Biotecnologia da fermentação natural para o melhoramento das propriedades nutricionais de pães”).

A tese foi defendida em março e mostra que, comparado com o pão convencional, o desenvolvido a partir da fermentação natural pode ter até 80% menos de carboidratos desencadeadores das inflamações intestinais citadas. “Daqui para frente, a gente vai ver como isto afeta a parte proteica do pão. Já temos alguns resultados na literatura, de outros pesquisadores, que nos indicam que haverá uma redução na quantidade de glúten e uma diferença nas propriedades nutricionais do pão também com relação à proteína. O que a gente tem de resultado, por enquanto, é com relação a estes carboidratos”, explica Leidiane, que completa: “Enquanto um pão convencional tem alta concentração desses carboidratos, o pão de fermento natural que desenvolvemos possui quantidades muito menores, podendo ser consumido sem que os sintomas das inflamações intestinais apareçam. Nosso objetivo é que o pão de fermentação natural possa ser uma opção saborosa e nutritiva para pessoas que não possam consumir o pão convencional”.
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Entrevista: Antonio Carlos Wolkmer

18/12/2017 09:18

Com uma carreira dedicada à pesquisa e à docência, professor da UFSC defende um Direito plural, crítico e transformador

Daniela Caniçali

“O professor Antonio Carlos Wolkmer é um dos nomes mais representativos da teoria jurídica crítica latino-americana.” Essa é a primeira frase do capítulo sobre o pesquisador na obra El pensamiento filosófico latinoamericano, del Caribe y “latino” (1300-2000), publicada no México, em 2011. Wolkmer é docente do Departamento de Direito da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) desde 1991. Aposentou-se em 2015, mas segue como professor colaborador e membro permanente do Programa de Pós-Graduação em Direito (PPGD). Ao longo de sua trajetória na UFSC, publicou 18 livros no Brasil, três no exterior e mais de cem artigos científicos. Orientou 72 dissertações de mestrado; 19 teses de doutorado; 11 trabalhos de conclusão de curso e 20 projetos de iniciação científica – além de 69 coorientações e seis supervisões de pós-doutorado.

Em 2010, no aniversário de 50 anos da universidade, Wolkmer recebeu do Centro de Ciências Jurídicas (CCJ) o prêmio Destaque Pesquisador. Como sempre se dedicou integralmente à carreira acadêmica – nunca atuou, nem teve pretensão de atuar, como advogado, juiz ou promotor –, ele se lembra desse momento com carinho: “Essa homenagem foi minha maior recompensa”. Wolkmer é hoje bolsista de produtividade nível 1A do CNPq — apenas dois outros pesquisadores no Brasil conquistaram esse nível na área de Direito.

Trajetória

Apesar de sua intensa produção e reconhecimento, ser pesquisador e professor universitário não estava em seus planos. Natural de São Leopoldo (RS), Wolkmer teve uma formação “tradicional, religiosa, humanista” – como ele a define. Estudou, quase sempre, em colégios católicos. Em 1973, ingressou no curso de Direito – à época se chamava Ciências Sociais e Jurídicas –, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), mantida pela Associação Antônio Vieira (ASAV), de padres jesuítas.
A escolha do curso não foi motivada pela vontade de se tornar um profissional da área. “Minha intenção era cursar Direito como um trampolim para seguir a carreira diplomática, que era meu grande sonho.” O professor explica que, à época, era fundamental ser bacharel em Direito para seguir a Diplomacia. Também era importante a proficiência em línguas estrangeiras: paralelamente aos estudos jurídicos, Wolkmer frequentava aulas de inglês e francês.

Durante a graduação, de 1973 a 1977, Wolkmer foi monitor da disciplina Direito Público: “Diferente de hoje, o monitor era uma espécie de assistente e ministrava aulas”. Na formatura, Wolkmer foi escolhido para orador da turma, o que, segundo ele, chamou a atenção da direção da faculdade. “Ser monitor, orador e ter recebido a nota máxima no meu trabalho de conclusão contribuiu para que eu fosse convidado a dar aulas.” No início de 1978 Wolkmer ingressou como professor da Unisinos.

Recém-graduado, ficou encarregado de ministrar disciplinas propedêuticas, de formação, que demandavam grande preparação teórica e sólida base cultural. Wolkmer assumiu a incumbência sem grandes dificuldades, uma vez que o sonho de ser diplomata o motivara a se dedicar intensamente aos estudos desde muito jovem: “Eu lia sobre muitas coisas: história, geografia, arqueologia, artes, literatura. Um diplomata deveria ter uma vasta cultura geral e ser poliglota. Como eu conquistaria isso, vindo de um meio humilde? Tinha uma vida metódica, era rato de biblioteca, lia o tempo todo, inclusive nos fins de semana.”

Wolkmer foi professor da Unisinos durante 15 anos. Em seu segundo ano como docente, fez uma especialização em Metodologia do Ensino Superior e começou a gostar do magistério. O ensino não estava em seus planos, mas nesse momento começou a mudar. “Percebi que não era a Diplomacia, mas sim a carreira universitária que me motivava. Estava realmente empolgado pelo ensino e pela pesquisa, numa época em que, na área do Direito, a pesquisa era confundida com estudo de casos e decisões dos tribunais – as denominadas jurisprudências.”

Seu interesse crescente pela pesquisa o estimulou a estabelecer uma nova metodologia de trabalho. “Decidi mudar o caráter da pesquisa: todo trabalho deveria envolver problema, objetivos e método. Os estudantes deveriam escolher uma temática, problematizar, utilizar metodologia e referencial analítico. Isso foi uma verdadeira revolução.” Além de seu envolvimento maior com a vida acadêmica, uma viagem à “Europa clássica”, por 45 dias, também contribuiu para que desistisse da diplomacia: “Todo o romantismo que eu tinha em relação a países que queria muito conhecer, como Itália e Grécia, foi descontruído”. Wolkmer fez então a escolha que seria definitiva: “Decidi que minha carreira seria na universidade: no magistério, na pesquisa e na extensão.”

Em 1979, Wolkmer ingressou no mestrado em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “O primeiro mestrado em Direito do Sul do Brasil foi o da UFSC, criado em 1973. Mas na época não havia uma política de bolsas, e era difícil, para um jovem professor, dedicar-se integralmente ao mestrado.” Segundo o pesquisador, o profissional liberal era, então, muito mais valorizado: ser um bom advogado, juiz ou promotor significava ser bem sucedido. “O docente era visto como alguém que não teve êxito profissional nas áreas mais importantes.” A reputação do professor universitário aos poucos mudou, sobretudo com as novas políticas nacionais na área de Educação. Ter mestrado e doutorado passou a ser valorizado, incentivado e, posteriormente, exigido. “Houve uma mudança grande na política universitária do país. Professores pesquisadores que, antes, eram marginalizados, ganharam destaque.”

O mestrado em Ciência Política possibilitou-lhe o diálogo com outras áreas. “Saí do mundo das leis, códigos, tribunais e tomei consciência da importância das pesquisas que traziam um retorno para a sociedade.” Wolkmer começou a pensar a pesquisa como transformadora da realidade. “Para quem sai da faculdade com aquela visão do Direito fundada na memorização de artigos, a Ciência Política foi um choque para mim. Meus colegas eram cientistas políticos, cientistas sociais, pedagogos, jornalistas. Estar em contato com novas perspectivas me permitiu realizar uma pesquisa não só comprometida com a prática social, mas com uma visão crítica e interdisciplinar da realidade.”

Em 1989, Wolkmer ingressou na segunda turma de doutorado em Direito da UFSC – o primeiro do Sul do Brasil. Foi atraído pelo perfil do programa: “Não era formalista, tradicional, de reprodução. Era um curso crítico, interdisciplinar, que introduzia problematizações”. Enquanto cursava o doutorado, prestou concurso para professor assistente em Direito Público, na UFSC, e ficou em primeiro lugar. “Eu estava em uma instituição privada, onde não havia plano de carreira nem tradição em pesquisa. Ingressar em uma universidade federal, pública, era não só estimulante, desafiador, como significava buscar estabilidade como professor e pesquisador.”

Pesquisa

Em 2007, Wolkmer criou o Núcleo de Estudos e Práticas Emancipatórias (Nepe), que se constituiu em um espaço de leituras, reflexões e produção para os três eixos de pesquisa a que o professor se dedica. O primeiro deles aborda a cultura jurídica na América Latina, pelo qual se ampliou o contato com universidades latino-americanas. “Eu me tornei professor visitante de várias universidades: Universidade de Buenos Aires (UBA); Universidade do Chile (Uchile); Universidade Nacional da Colômbia (Unal); Universidade de Antioquia (UdeA), entre outras.” Ao longo de sua trajetória na UFSC, Wolkmer vem estabelecendo um diálogo permanente para a construção crítica de uma teoria e cultura jurídica latino-americana.

Enrique Dussel, argentino radicado no México e grande pensador da Filosofia da Libertação, é uma de suas principais referências intelectuais.

Seu segundo eixo de estudos está voltado para a discussão da crise do Direito ocidental na modernidade, suas novas possibilidades e alternativas. “Estudo a busca de novos paradigmas. Questiono de que forma se dá a regularização, a normatividade, o controle social. Esses mecanismos são eficazes ou ineficazes? Assumem um caráter repressivo? Discuto o modelo que foi transplantado na colonização espanhola, na América Hispânica, e na colonização portuguesa, no Brasil.” O professor busca alternativas na direção da interdisciplinaridade e da descolonização. Segundo ele, o Direito que foi importado da Europa é formalista e positivista. “Seus agentes tendem a reproduzir uma prática convencional, sem um compromisso com nossa realidade periférica. É importante melhorar nosso sistema de justiça, tornando o acesso mais democrático e popularizado.” Wolkmer critica o conservadorismo, a morosidade e a burocracia de nossa cultura jurídica: “Estudo formas de tornar a justiça mais célere, mais simples e com benefício maior para toda a população”.

A terceira direção de sua pesquisa é o pluralismo jurídico, expressão que identifica e compreende vários sistemas normativos na sociedade: “Esse foi o tema central da minha tese. A versão de legalidade oficial, monista e dominante é a do Direito produzido pelo Estado, através dos poderes Legislativo e Judiciário. Essa é a versão dominante que se estuda durante os cinco anos da graduação. Aprende-se que o Direito está expresso na lei e se efetiva nas instâncias estabelecidas pelo Estado. O pluralismo traz outra visão: o Direito como sistema normativo não existe apenas nos códigos positivos e na lei escrita, formalizada, mas está presente na sociedade de várias outras formas. Grupos sociais também produzem normatividade. Pluralismo é a descentralização, a fragmentação das formas de poder, é ver o Direito não apenas no Estado e nos códigos, mas na sociedade civil, nas lutas sociais”.

Como professor, Wolkmer afirma que seu esforço sempre foi para formar operadores do Direito, teóricos ou práticos, comprometidos com a prática social e com a transformação da sociedade. Referindo-se a si mesmo na terceira pessoa, ele se define como “um acadêmico, um professor com uma vida dedicada ao magistério e à pesquisa, que tem a missão, o objetivo fundamental de despertar a consciência e de formar uma geração de profissionais comprometida com a realidade, com o Brasil, com a América Latina. O ensino deve estar embasado em uma educação descolonial e crítica. Não me refiro a uma crítica niilista, de jogo de palavras. É uma crítica comprometida com as mudanças, no sentido de recriar e possibilitar uma tomada de consciência, uma emancipação”.

Nós, enigmas e mistérios: o sempre contemporâneo Salim Miguel

11/12/2015 09:16
Luciana Rassier*

Nós, leitores de Salim Miguel, somos, incontestavelmente, privilegiados. O Mestre deleita-se em nos surpreender, e desta vez nos propõe uma novela policial que intriga e seduz. Um bilhete anônimo seguido de um telefonema lacônico. Um cidadão pacato oculta um assassino implacável. Um crime deixa a polícia e a mídia perplexas. Ninguém sabe. Ninguém viu. Mas, ao percorrermos as páginas, vamos encontrando indícios esparsos: seis degraus, o detalhe de uma blusa, o salto de um sapato.

Com os gestos apurados de um artesão, Salim Miguel tece os fios de sua narrativa e faz o Acaso entremear destinos. Oriundos de diversos lugares do país, os personagens acabam em Brasília, envolvidos no crime: um milionário paraense, um rapaz catarinense, uma moça goiana, um alagoano candidato a vereador, um comissário de polícia paulista. A situação é confusa, o caso é intricado. A vítima é-e-não-é quem se pensa. Como desfazer tantos nós?

A homenagem de Salim Miguel aos grandes mestres do gênero policial não está apenas na arquitetura da trama e nos recursos narrativos, mas também no auxílio solicitado a investigadores de primeira linha, como Sam Spade, Nero Wolfe, Philip Marlowe, Ellery Queen, o Padre Brown e o Inspetor Maigret. É a eles que recorre Auguste Dupin, parceiro do personagem-narrador para, entre cálices de bourbon e goles de cachaça, desvendar o mistério e interrogar os suspeitos.

Na obra de mais de trinta títulos que Salim Miguel vem construindo desde sua estreia na literatura em 1951, podemos aproximar Nós de As várias faces (1994) e As confissões prematuras (1998) – novelas que, a partir do roubo de um quadro e de um sequestro, colocam em cena interrogatórios e embates de personagens. Além dessas afinidades temáticas e estruturais mais específicas, Nós traz marcas recorrentes na escrita de Salim, como a alusão a suas leituras prediletas ou ainda a figura de um narrador-personagem-Autor impotente face à página quase branca e a personagens que teimam em tomar as rédeas do próprio destino. Outras marcas são o arrojo na forma; a habilidade na fragmentação e em sua articulação; as vozes plurais que multiplicam os pontos de vista para compor um texto que transforma o leitor em co-autor.

É essa instigante narrativa inédita que a Editora da Universidade Federal de Santa Catarina publicou em 2015, em homenagem aos 91 anos de Salim Miguel, que a dirigiu de 1983 a 1991, dotando-a de estrutura profissional, do prédio que ocupa até hoje e a tornando um dos principais agentes da criação da Associação Brasileira de Editoras Universitárias.

Nas conferências que tenho feito no âmbito de meu pós-doutorado na França, Nós cativa o público, tanto pela bela edição da EdUFSC quanto pela agilidade e contemporaneidade da prosa de Salim Miguel. Afinal, Nós lembra que somos todos eternos migrantes, deslocando-nos entrenossas lembranças, inquietudes e desejos, tentando desvendar nossa própria  identidade e nossos próprios enigmas. Após os recentes atentados em Paris, e face a todas as questões suscitadas pela vaga migratória na Europa, essa narrativa toca ainda mais fundo, porque mostra que o convívio com o Outro pode nos ensinar a compreender nossas próprias estranhezas e incertezas. Quando comecei a tradução da narrativa para a língua francesa, me interroguei sobre como manter a pluralidade de sentidos do título: nós (eu, tu, ele, ela, nós); nós do enredo a ser contado; nós do mistério a ser desvendado. Talvez baste fazer como o mestre Salim, e escolher a palavra, curta e forte, que concentra o belo enigma da existência e do “com-viver”: Nós (Nous).


* Luciana Rassier é Doutora em literatura pela Universidade de Montpellier, França. É docente pesquisadora no Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução e no Departamento de Língua e Literatura Estrangeiras da UFSC e tradutora. Com Jean- José Mesguen traduziu para o francês, entre outros, Primeiro de Abril, narrativas da cadeia, de Salim Miguel (Editora L’Harmattan 2007)