Pesquisa estuda própolis de abelha sem ferrão em células melanoma

11/12/2015 09:14
Alita Diana e Gabriel Volinger

Pesquisa desenvolvida pelo Grupo de Estudos em Interações entre Micro e Macromoléculas (GEIMM), do Departamento de Farmácia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), investiga a utilização de extratos de própolis de abelhas sem ferrão em modelo in vitro de melanoma – tipo mais grave de câncer de pele. A proposta foi da doutoranda Júlia Cisilotto, orientada pela professora Tânia Beatriz Creczynski-Pasa. O projeto, em andamento desde o início de 2013, já apresenta resultados positivos.

O câncer de pele é o mais frequente no Brasil e corresponde a 25% de todos os tumores malignos detectados. Entre eles, o melanoma é o mais grave, devido ao risco de metástase – disseminação do câncer para outros órgãos. A maioria dos casos brasileiros encontra-se na região Sul. O melanoma maligno corresponde a 4% do total de incidência de câncer de pele. Uma das linhas de pesquisa do grupo, coordenado por Creczynsky-Pasa, emprega modelos in vitro e in vivo para estudo de diferentes tipos de câncer, testando produtos naturais, semissintéticos e sintéticos, com atividade antitumoral.

Própolis é produto de resinas colhidas por abelhas nas cascas das árvores ou brotos. Esta resina é processada, e os insetos a utilizam para proteção, vedação e desinfecção da colmeia. Os antigos egípcios já usavam própolis como um cicatrizante natural, cujas propriedades são alvo de pesquisa atual. Cada espécie de abelha o produz com características diferentes, em termos de composição química, aspecto e propriedades medicinais. As abelhas Tubuna e Mandaçaia são encontradas na América Latina; no entanto, as propriedades do própolis produzido por ambas as espécies ainda foram pouco estudadas.

As pesquisas de Cisilotto se voltaram aos produtos dessas abelhas e encontraram resultados efetivos in vitro contra células de melanoma humano. De acordo com a doutoranda, os resultados foram satisfatórios. “A análise da concentração, comparada com a de outros artigos envolvendo outros tipos de própolis, mostrou melhores resultados. Precisou-se de uma quantidade mais baixa de extrato para atingir o efeito citotóxico [responsável pela morte da célula cancerígena]”, afirma.

Desenvolvimento da pesquisa

O própolis estudado foi coletado pelo melipolinicultor Pedro Faria Gonçalves, no sítio Flor de Ouro, localizado na região centronorte de Florianópolis.

A equipe responsável pela pesquisa conta com a participação da bolsista de iniciação científica, Débora Joppi, e com a pós-doutoranda Heloisa Fernandes, que colaboram nos estudos in vitro. Enquanto isso, Júlia Cisilotto, que propôs a pesquisa, analisa as propriedades químicas do própolis, com a colaboração da professora Maique Weber Biavatti, especialista em Farmacognosia – ramo que estuda princípios ativos de produtos naturais. O trabalho é complexo, uma vez que o própolis varia de acordo com o inseto, o clima e o local da coleta.

No momento, o grupo está desvendando os mecanismos de ação dos extratos – como eles estão induzindo a morte de células de melanoma. Os extratos foram testados em uma linhagem celular não tumoral, e foi possível observar uma maior seletividade para a linhagem maligna. O efeito dos extratos também foi testado junto com o medicamento vemurafenibe (utilizado para tratamento de pacientes com melanoma), e o efeito da combinação foi melhor que quando o fármaco foi testado isoladamente. Além disso, com o extrato da abelha Mandaçaia foi possível observar um acúmulo de células na fase G2/M, o que pode estar proporcionando um retardo na progressão do ciclo celular, diminuindo a proliferação das células.

A pesquisa está ainda em andamento, e já foi observado que o extrato de própolis da abelha Mandaçaia apresenta resultados mais efetivos, mas ainda não se sabem os componentes que possibilitam o efeito. “Há ainda a possibilidade de sinergismo, ou seja, pode ser que haja um conjunto de componentes que o faça funcionar”, explica a pesquisadora Tânia Beatriz Creczynski-Pasa.