Ciência sem complicação

11/12/2015 09:11
Jamil Assreuy*

Como mostrar o que é pesquisa, a ciência, como ela é feita, quais benefícios ela traz para as pessoas? Parece fácil, mas não é. Explicar temas às vezes complicados em linguagem, de forma que as pessoas entendam – sem cair no sensacionalismo barato de tabloides e programas pseudocientíficos –, é muito mais difícil do que parece.

As pessoas se interessam por ciência? A resposta é um grande sim! Resultado de uma pesquisa, feita em 2015, sobre a percepção pública de ciência e tecnologia no Brasil (http://percepcaocti. cgee.org.br/) mostrou alguns resultados surpreendentes. Por exemplo, as pessoas acham que ciência é uma atividade muito importante e essencial para ajudar a resolver problemas do país e do mundo. Três quartos dos entrevistados acreditam que a ciência traz mais benefícios que malefícios, e mais da metade acredita que cientistas fazem coisas úteis à humanidade; entretanto, 90% dos entrevistados não conseguem se lembrar de uma instituição científica ou nome de um cientista brasileiro famoso.

O que falta então? Maior oferta de informação científica de qualidade. Embora uma parcela significativa das pessoas acredite que a internet, televisão e jornais divulgam, de forma satisfatória, descobertas científicas, o problema é a quantidade dessas informações que alcança esses meios. E, infelizmente, não podemos ignorar que muitas destas informações, principalmente as veiculadas na internet, têm qualidade no mínimo duvidosa.

E quem melhor qualificado para transmitir estas informações que os próprios pesquisadores? Aí temos outro problema. A maioria dos pesquisadores não tem treinamento para transmitir a mensagem em linguagem que as pessoas entendam. Isso nos leva imediatamente à necessidade imperiosa de junção de esforços entre pessoas que sabem transmitir a informação (jornalistas, por exemplo) e aquelas que têm as informações (pesquisadores e cientistas).

Aí entra o jornalismo científico e a divulgação científica. Infelizmente, nosso país não está entre os que fazem boa divulgação científica – e não é por falta de boa ciência. Temos centenas de exemplos de grupos de pesquisa em universidades, laboratórios oficiais e empresas que estão trabalhando na fronteira do conhecimento, em pesquisas de classe mundial. Porque isso acontece? A resposta é difícil e pode ter inúmeras variáveis. Poucos são os veículos de divulgação científica permanentes no Brasil. E poucos são os jornalistas especializados em divulgação científica. Em alguns países há jornalistas e setores de divulgação de instituições e universidades especializados em levar para o público o que acontece em pesquisa nos seus laboratórios. Além de elevar a compreensão do público em geral sobre os avanços da ciência, essa é uma forma importante de prestação de contas do dinheiro aplicado em ciência e pesquisa.

Tamanha é a importância atribuída à divulgação científica que o currículo Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) agora tem uma aba específica para que sejam cadastradas as atividades de divulgação científica.

Nesse sentido a UFSC deu uma modesta, mas significativa, contribuição. A Propesq manteve nos últimos dois anos uma equipe de jovens estudantes de jornalismo, orientados por profissionais que produziram uma série de matérias sobre a pesquisa que se faz na UFSC – algumas inclusive tendo sido veiculadas pela grande imprensa –, o que possibilitou levar o conhecimento produzido na Universidade para um número ainda maior de pessoas.

Este é um bom começo para uma atividade que deve ter caráter permanente. A oferta de material de divulgação de boa qualidade aumentará a percepção do público sobre a relevância e importância da pesquisa científica. É minha convicção que esta iniciativa deve continuar e ser expandida para tornar-se o Programa de Divulgação Científica da UFSC.


* Jamil Assreuy é Doutor em Ciências Biológicas (Biofísica) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fez o pós-doutorado no Wellcome Research Labs, UK . Atualmente é Professor Associado do Departamento de Farmacologia e Pró-Reitor de Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina.