O admirável novo mundo da Mesoamérica

18/12/2017 09:22
Artemio Reinaldo de Souza

Códices – os antigos livros do Novo Mundo, de Miguel León-Portilla, publicado pela Editora da UFSC, é a famosa faca de dois “legumes”: serve tanto para os não-iniciados, quanto para os leitores já familiarizados com o tema: o estudo dos livros e manuscritos feitos pelos povos indígenas da Mesoamérica em tempos pré-hispânicos e coloniais, como os códices maias, mixtecos e astecas.

Dividido em cinco capítulos, o trabalho mostra que esses documentos atraíram a atenção dos espanhóis e de outros europeus desde datas muito antigas. No primeiro, León-Portilla discute a significação que esse tipo de documento tinha nos diversos aspectos e contextos no cotidiano da Mesoamérica. O que ele representava nos templos, nas escolas, no governo, na administração pública e também na rotina daqueles de linhagem, como no caso dos macehuales, a gente do povo.

Como os livros do México antigo, assim como a própria cultura, também sofreram o impacto da conquista, o segundo capítulo resgata as razões para isso. “Houve quem destruiu os manuscritos nativos porque os consideraram inspirados pelo demônio. Mas houve, também, entre os mesmo espanhóis, quem lamentou a destruição”, explica o autor.

Mesmo assim, lembra León-Portilla, os nativos sobreviventes continuaram elaborando novos manuscritos por conta própria. Alguns religiosos, que conservaram o humanismo renascentista das universidades onde tinham se formado, não somente lamentaram as perdas como também quiseram compensá-las, resgatando o que puderam do antigo legado indígena.

Portilla também trata da relação existente entre a oralidade, ou seja, a tradição comunicada de viva voz, e o conteúdo dos códices. A ideia é mostrar como essa relação era operada nos tempos pré-hispânicos e como ela foi um fator-chave nas novas leituras.

Ele descreve e avalia ainda os grandes momentos nos quais diversos pesquisadores, sobretudo desde o século XIX, ocuparam-se desses livros, e mostra a considerável variedade de códices que chegaram até nós, tanto os pré-hispânicos como os do período colonial. “Quero destacar a riqueza e a ampla gama de significações dos livros mesoamericanos que, vale a pena ratificar, são os mais antigos livros produzidos fora do contexto do Velho Mundo”, afirma Miguel León-Portillo.

Segundo Eduardo Natalino dos Santos, pesquisador de estudos mesoamericanos e andinos da Universidade de São Paulo, “um dos grandes méritos dessa obra reside na atualização do leitor brasileiro em relação ao pensamento desse importante historiador e intelectual mexicano, conhecido pela publicação de Visión de los vencidos. Relaciones indígenas de la Conquista, coletânea de textos ameríndios sobre a conquista espanhola”.